Esta exposição existe. Estas imagens têm peso e “repetem-se mecanicamente porque nunca mais poderão repetir-se existencialmente” como Roland Barthes nos diz em Câmara Clara. Responderam ao meu convite 7 artistas emergentes de Lisboa para pensarem sobre Imagem e para ocuparem um espaço que esteve desocupado entre os meses de março e maio de 2020 sem a sua função normal. Neste movimento de ocupação damos sentido e razão ao espaço sem utilidade, espaço normalmente inacessível a este conjunto de artistas.

IMAGO, latim para Imagem, contempla dentro de si a interpretação aberta de todo o seu universo semântico. Também chamada de Imago é a fase final de um processo de metamorfose num insecto, onde este atinge a maturidade. Utilizada também pela Psicanálise, estabelecem-se assim paralelos que potenciam resistência a uma qualquer tentativa totalitária de reduzir o significado da palavra Imagem.


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Nesta exposição coletiva todos responderam excepcionalmente, não havendo nenhuma dúvida de que a relação pessoal de amizade e de identificação conceptual destes artistas é real e inabalável. 
Afonso Laranjeira apresenta um objeto que pensa como uma imagem se reproduz em qualquer dispositivo, fazendo clara referência a uma obra visual conhecida de Sol Lewitt. — Anita Marante atira para o espaço uma forma que corta qualquer tentativa de suavidade na mensagem, resultando numa proposta de arquitetura do esquecimento de um tempo original e unidirecional. — Catarina Santos estende uma delicadeza que se esvai em branco, em que o texto a substitui e presentifica a sua ausência silenciosa. — gonssalo actua no espaço marcando-o como seu ao carimbar a sua presença neste que não lhe deu acesso, revelando então o artificialismo circunscrito da proposta de espaço. — Guilherme Curado totaliza qualquer representação sua num objeto que representa tudo e revela o estrutural. — Joana Pimentel liga-nos a todos pensando em como esta exposição poderá existir. — Pedro Tavares com duas imagens mostra o divisível virtual e possível só no contexto desta exposição.

Tal como qualquer imagem, esta exposição cria um universo de significados que em potência resultam numa crítica contemporânea ao temporário e à realidade vivida pelos artistas em 2020. 

Isabel Ouro, 2020
Nota de Imprensa
Sete artistas emergentes - Afonso Laranjeira, Anita Marante, Catarina Santos, gonssalo, Guilherme Curado, Joana Pimentel e Pedro Tavares - responderam ao convite da curadora Isabel Ouro para pensarem sobre a Imagem, para ocuparem um espaço sem função que esteve desocupado entre os meses de março e maio de 2020. Neste movimento de ocupação atribui-se sentido e razão ao espaço sem utilidade normalmente inacessível a este conjunto de artistas. 
Neste ato de resistência confronta-se o público com a veracidade da imagem, questionando a realidade da exposição. Este período ambíguo, hipotético e imaginário onde a exposição tomou forma, propõe uma ucronia e um desfoque verosímil relativamente a um evento que poderia ter realmente acontecido. 
A ilusão arrasta-se com trabalhos puramente digitais, que não têm materialidade e que aparecem como consequência de código computacional. Uma pesquisa que compreende 10 peças dos sete artistas realizadas unicamente para este contexto específico, esta exposição cria um universo de significados que em potência resultam numa crítica contemporânea ao temporário e à realidade vivida pelos artistas em 2020. A inauguração teve “lugar” no dia 20 de março e esteve aberta até ao passado dia 15 deste mês.
Esta iniciativa partiu da ideia de gonssalo em criar uma exposição onde convida artistas para exporem com ele. A curadora Isabel Ouro, seu pseudónimo, simula uma exposição num espaço galerístico em Lisboa, com o mote pensar a Imagem. Esta performance acontece nos interstícios das relações interpessoais que, neste contexto pandémico, passaram a quase exclusivamente virtuais. Assim, os artistas partilham nas suas redes sociais pessoais as fotografias da exposição onde participaram, criando uma realidade alternativa que dá aos utilizadores das redes sociais uma exposição de arte que se reifica autonomamente.
Todos licenciados em Arte Multimédia pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, estes artistas nascidos na segunda metade dos anos 90 e a viverem entre Lisboa, Setúbal, Montijo e Londres arrancaram nos últimos anos com a sua carreira artística profissional. A exposição é da curadoria de Isabel Ouro e estará presente nas redes sociais destes artistas até os próprios a eliminarem.

Cartaz por Multa
Obras dos artistas
título: A spell is only as good as its sorcerer 
ano: 2020
material: vinil
dimensões: 48cm x 280cm
sinopse: Código correspondente ao “Wall Drawing 365” do Sol LeWitt na parede da galeria.
biografia: Lisboa, 1996; Licenciado em Arte Multimédia na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (2015-2018); Pós-Graduado em Estudos Visuais: Fotografia e Cinema Experimental na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (2019-2020); Participou em várias exposições coletivas, destaca-se: Amanhã Está o Agora, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra - 15/12/2018-2/2/2019 e Out The Window, Arte Graça - 30/1/2020-9/2/2020
título: Sinking in the middle 
ano: 2020
material: materiais variados
dimensões: 3,64m x 4,25m x 4,75m
sinopse: A memória torna-se numa forma material, o modelo temporário numa forma perene cuja proporção ultrapassa a escala humana e da sua função original. Apresentada no momento estático da queda, que alude à sua forma fotográfica ou digital, esta estrutura considera o deslocamento de um ponto de vista de navegação- o horizonte como referência é substituído por uma perspectiva de cima para baixo- proporcionado pela tecnologia. Simultaneamente, através da preservação de um modelo como artefacto, onde múltiplas alterações do mesmo objecto coexistem, considera a amnésia contemporânea, e conserva a memória colectiva de uma construção.
biografia: Anita Marante é licenciada pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, vertente de Audiovisuais. Frequenta o Mestrado Contemporary Art Practice no Royal College of Art, em Londres. O seu trabalho tem girado em torno da memória do espaço, linguagem e anamnese, através da exploração dos meios da fotografia, imagem em movimento e texto. A sua investigação decorrente reúne preocupações semelhantes mas focando-se no valor da falha e na contradição de sistemas normativos.
​​​​​​​título: este é o tempo das cadeiras, uma composição para o silêncio
ano: 2020
material: cadeira, linho
dimensões: instalação
sinopse: Proposta de desocupação do espaço para a total imersão no branco. O silêncio é queda livre; O silêncio não pode magoar o silêncio; O silêncio é proximidade; O silêncio é anterior à presença; O silêncio sabe penetrar-se; O movimento é quietude.
biografia: Catarina Santos nasceu em Lisboa, 1996; Estudos: Curso profissional em cerâmica na Escola Artística António Arroio; Licenciatura em Arte Multimedia, especialização em fotografia na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Pós graduação em Discursos da fotografia contemporânea na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. O seu trabalho tem se desenvolvido em torno da relação entre o seu corpo e o objecto-cadeira, estudando novos conceitos aos quais identificou como cadeira-corpo e corpo-cadeira que desenvolvem temas como a ausência/presença e a memória.
​​​​​​​título: a  paisagem mudou-se
ano: 2020
material: impressão de jato de tinta sobre papel fine art
dimensões: 233 x 98,08 cm
título: gonssalo 
ano: 2020
material: carimbo e tinta de carimbo
dimensões: 33cm x 40cm
sinopse: Objeto em que o acto performativo de carimbar é sinónimo de autenticação e legitimação.
biografia: Artista emergente português, nascido em Cascais, viveu na Madeira antes de vir para Lisboa estudar nas Belas-Artes. Licenciou-se em Arte Multimédia em 2018 e actualmente encontra-se no 2º ano do Mestrado em Arte Multimédia na mesma faculdade. Já expôs em Portugal, Alemanha, onde realizou Erasmus, e Holanda. Expôs com este conjunto de artistas o projeto “então…gravei.” na Galeria Arte Graça. Como artista performativo explora a natureza da linguagem, o meio artístico e o processo de criação artística, apropriando-se disso para criar.
título: Melhores cumprimentos, Gonçalo Silva /// Out The Window
ano: 2019/2020 /// 2020
material: impressão sobre vidro /// Moldura alumínio polido, impressão sobre papel fineprint
dimensões: 89,5cm x 100cm /// 110cm x 134cm
sinopse: Print-screen de um email enviado para a galeria a perguntar de uma maneira ingénua como é que se pode mostrar o portfólio, do qual não obtive resposta. /// Fotografia aérea do espaço representado. Visão exterior. Denúncia.
título: Frail / Fragile (let fragility not be an obstacle)
ano: 2020
material: Vidro soprado
dimensões: 176cm x 176cm x 176cm
sinopse: Que o individual afete o estrutural. A esfera de vidro enquanto o individual, o espaço expositivo enquanto o estrutural.
biografia: 1996, Faro, Portugal. Licenciado em Arte Multimédia na vertente Audiovisuais, pós-graduado em Arte Sonora pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 2018. Trabalha entre a arte e o design,  explorando a relação paradoxal entre o colectivo e o individual. Através da instalação, onde cria conexões entre a fotografia, áudio e vídeo com imagens geradas por computador, somos envoltos numa viagem que nos reconcilia com as sensações mais primais do “interno” e “externo”, do indivíduo e do colectivo.​​​​​​​
título: Intra-connective
ano: 2020
material: telemóveis (Nokia 3310 versão 2000), cabos de alimentação
dimensões: 150cm x 175cm
sinopse: Abordagem individual do slogan “connecting people”.
biografia: Joana Pimentel (1996; Lisboa, Portugal) é licenciada em Arte Multimédia e pós-graduada em Arte Sonora na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. O seu trabalho parte da materialização física (instalação) e/ou audiovisual das suas interpretações automáticas face ao que a rodeia e processa enquanto espectadora, procurando que estas se mantenham aproximadas da sua forma primordial.
título: Equilibrium
ano: 2020
material: Painéis de Algodão Preparado, Cabo de Aço, Projeção Vídeo, Serigrafia
dimensões: 3m x 1,69m
sinopse: A relação de peso entre duas metades de um baralho de cartas representado por dois ecrãs 16:9 suspensos verticalmente lado a lado. À direita, ausência e presença de luz, à esquerda, um círculo cromático. Respetivamente, um proto-puzzle digital que questiona o peso físico entre dois objectos teoricamente iguais, e um buffer de um sistema operativo circundado pelo seu igual em rotação oposta. Os dois painéis não têm o mesmo peso.
biografia: Pedro Tavares (n.1997, Setúbal, Portugal), é licenciado em Arte Multimédia na vertente Audiovisuais com pós-graduação em Arte Sonora pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Une o visual com o som através do seu trabalho videográfico, assim como pelos seus diversos projectos musicais que integra: funcionário (a solo) e Império Pacífico (duo) - tendo como mote a expressão da vida quotidiana e de todas as suas facetas, não como uma narrativa contínua mas sim como ponte entre a memória e a imaginação que a interpreta. Co-fundador do Coletivo Colinas e co-organizador do festival de artes A Colina em Setúbal.​​​​​​​
Catálogo Exposição
Criado por Multa
Cartaz e folha de sala
Criado por Multa
Ficha Técnica
Curadoria — Isabel Ouro
Apoio à Curadoria — João Reis
Produção — Gonçalo Silva
Apoio à Produção — Ana Manana, Pedro Tavares
Imagem e divulgação — Multa